Sunday, January 29, 2006

Heil Nobel

"Se algum de vós tiver um amigo e for ter com ele à meia-noite e lhe disser: Amigo, empresta-me três pães, pois um amigo meu chegou agora de viagem e não tenho nada para lhe oferecer, e se ele lhe responder lá de dentro: Não me incomodes, a porta está fechada e os meus filhos estão comigo na cama, não posso levantar-me para tos dar. Eu vos digo: Embora não se levante para lhos dar por ser seu amigo, ao menos, levantar-se-á devido à impertinência dele, e dar-lhe-á tudo quanto precisar." Lc 11


Andava eu a matutar no que é que haveria de arranjar para ocupar o imenso tempo livre que se aproxima, quando o meu dilecto assessor Joaquim Zito - que gentilmente me cede este espaço para entrar em diálogo com os seus leitores - me proporcionou, inadvertidamente, aquilo que eu chamaria uma ideia luminosa, não fossem a minhas proverbiais humildade e modéstia.
Suponho que depois de ter atingido este patamar de importância social e política, e não podendo por razões certamente compreensíveis, alcandorar-me a posições de superior importância mundial, como sejam a suprema magistratura nos Estados Unidos ou o Papado, estariam à espera que esperasse pacientemente uma demolidora reeleição e arrumasse as botas logo a seguir.
Também eu e os meus mais próximos, onde evidentemente também incluo o licenciado Joaquim Zito, estávamos convencidos da inevitabilidade de tal situação. A meio da semana que ontem terminou, um pedido de auxílio do meu assessor deu um novo impulso - posso dizê-lo - a uma nova perspectiva para, em mais um campo de actividade, contribuir duplamente para o prestígio do país presenteando-o com mais um Nobel, desta vez na difícil arte da Economia.
Ao fim da manhã de terça-feira o meu assessor, necessitado de almoçar, coisa que eu não faço para não interromper os raciocínios, pediu-me que vigiasse uma imagem em que Sylvester, o gato, se preparava para apanhar Tweety, o passarinho (ou passarinha? - nota para o assessor de blógues - confirme o género do animal e corrija). Quando o meu colaborador regressou já eu tinha tido a revelação que vai orientar estes primeiros cinco anos de mandato.


Posso dizer que o meu fascínio por Sylvester foi à primeira vista. Reparem no modo entusiástico como ele desenvolve o seu trabalho. Apesar do esforço, permanece no rosto um ar festivo e os olhos brilham de determinação. Sente-se em todo o seu movimento um empenho invejável.
Mas o meu fascínio aumentou ao verificar que afinal a tarefa não era fácil. As horas foram passando e a persistência do gesto mostrava uma dedicação à causa que - tenho que o reconhecer - me comoveu até às lágrimas. Passaram vários dias e Sylvester ainda não conseguiu, pelo menos à hora a que estou a redigir este texto, apanhar o(?) Tweety. Mas o seu objectivo mantém-se, o esforço não o detém, o objectivo mantém-se claro e explicito no ar aguerrido com que, sem desfalecer, prossegue o seu infatigável trabalho.
O estudo que vou empreender nos próximos anos, e que inevitavelmente me vai conduzir ao Nobel, para evidente grandeza do país, centra-se no estudo desta capacidade de persistir contra o tempo, neste indomável modelo de concentrar todas as energias num objectivo e ignorar tudo o resto.
O meu estudo vai evidentemente concluir das virtudes do trabalho, da capacidade de resolver problemas contra tudo e contra todos, do colocar os interesses do grupo acima dos interesses particulares e de, mais tarde ou mais cedo, liquidar os pássaros (confirmar se são pássaras) que miseravelmente se opõem.
A nova teoria económica que daqui vai sair será um dos alicerces para um estado cada vez mais novo.
Muito obrigado.

O Professor

0 Comments:

Post a Comment

<< Home