Wednesday, February 08, 2006

Thereza Hum

Sinto que estavam à espera que eu fosse falar da amigável Opa do tio Belmiro. Acontece que eu não me movo por oportunidades mediáticas. Sou eu que estabeleço o meu próprio calendário de prioridades. E neste momento estou debruçado sobre um assunto de grande alcance epistemológico. Num certo sentido estou a elaborar um esquema sócio-económico com implicações semelhantes às que Carlos Marques elaborou no século dezanove e que, por estarem mal engendradas tiveram os caprichosos efeitos que todos conhecemos. Enquanto o Sr. Professor se inspira no Silvester para preparar o conjunto de estudos que o vão levar inapelavelmente ao Nobel eu concentro-me numa nova, prometedora e fecunda teoria social que vai revolucionar a maneira como vemos o mundo. Aliás o ambiente de profundo espírito investigativo está a contaminar todo o 'staf' de assessores do Professor. A ideia base é de que agora ou vai ou racha. Resolvemos todos, por solidariedade com o Benito Silvio abstermo-nos de sexo até à tomada de posse. Comprei um 'i-pod' para a Umbelina e ela anda com aquilo enfiado nos ouvidos e nem se lembra de mais nada. Talvez por isso ela não tem postado nada ultimamente. Mas vamos ao que interessa. (Não vem a propósito mas ouvi dizer que o presidente do Benfica contratou uma chinesa para cozinhar para o plantel inteiro. Chama-se Thereza Hum e veio directamente de Cantão. Espero que com isto as coisas melhorem para o meu clube de sempre). A minha teoria que hoje vai servir de meditação é uma consequência de reflexões muito insistentes sobre a questão dos desfavorecidos. Como sabem a questão dos desfavorecidos é muito recorrente nos meus pensamentos. Mas, e há sempre um mas, para mim a questão dos desfavorecidos é um assunto resolvido: existem, gostamos muito deles, são muito importantes para nós, mas não são, digamos assim, um problema. Os desfavorecidos caracterizam-se precisamente por não trazerem problemas a ninguém. Hora o que me ocorreu, num rasgo de génio, foi pensar: e os outros? e os que não são desfavorecidos? sim? nós? os que não somos desfavorecidos, essa massa imensa de não desfavorecidos o que somos então? Hora aí é que eu descobri, por um acaso, reconheço, por pura serendipidade, que nós, os outros, os que não somos desfavorecidos, graças a Deus, somos os necessitados! A teoria que estou a elaborar divide o mundo em desfavorecidos e necessitados. Os primeiros, como já disse, não são um problema, não exigem, não pedem, contentam-se com pouco e sabem há muito tempo que tiveram azar, nasceram no lado errado da história. Nós os necessitados, pelo contrário, temos muitas necessidades. Todos os dias precisamos de coisas novas, de comer, de beber, de gasolina no carro, etecetera, etecetera. Toda a gente sabe as necessidades que nós os necessitados temos. Só mesmo um desfavorecido não saberá as necessidades que nós temos. Se olharmos para o mundo com esta dicotomia (adoro a dicotomia) que não é bem a dialéctica marxista, vemos que se continuarmos a satisfazer as necessidades dos necessitados o mundo pode melhorar significativamente. O aumento de desfavorecidos também tem impacto global pois faz reduzir os necessitados e concomitantemente permite distribuir melhor os recursos existentes pelos necessitados que de facto precisam. Esta meditação já vai longa mas prometo voltar a ela noutra oportunidade à medida que as minhas investigações se forem tornando mais aprofundadas. Então boas noites a todos os necessitados delas.

Joaquim (assessor)

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